quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Um olhar


Meus olhos já não dão conta de ver. O que é vasto e fácil já me assombra. O mundo, como suspeitava, é maior que eu. Preciso de um olhar que me ajude a reconhecer os dias e as coisas. Flores, quando estiverem no desenho do vestido. Amor, quando for dito verdadeiramente. Meu nome, quando não for dito em vão. Sono, quando o abraço me retiver. Confiança, quando for o tempo inevitável das incertezas. Silêncio, quando não for preciso palavras. A lua, quando já for escuro, o sol, quando não perceber que amanheceu. O aroma, quando o vinho se espalhar na parede nua da taça, como uma dança, ou quando o corpo porejar o suor de meus movimentos e eu me queira véu de tua pele e desejos. A sílaba, quando não entender a linguagem das coisas findas, eu que tanto amo as eternidades e permanências. A rota, que me traga de volta são e salvo, todos os dias. A varanda, quando for hora de mãos dadas e quintais.
Eu, que desaprendi de olhar só, navegador de tormentas, preciso da doçura e manto, da fantasia de um olhar derradeiro, que nada mais queira ver, além do que me ensinar. Então, eu, que ensaio despedidas, saberei que o Outono terá acabado...

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