sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Barco Ancorado 29/02/2008


Lou Rhodes actua esta sexta-feira no Santiago Alquimista, em Lisboa. O pretexto para este regresso a Portugal é a apresentação do segundo álbum a solo, "Bloom", editado em 2007.

Em "Bloom", Rhodes explora novos territórios dentro do registo acústico que tinha mostrado no disco de estreia, "Beloved One", de 2006. Um certo sentimento de expansão que se adequa ao título do álbum. «Todos os meus discos a solo são uma espécie de viagem de auto-descoberta. E acho que "Bloom" tem sido um caminho algo difícil de cruzar, mas ao mesmo tempo uma espécie de agregação de todos os elementos. Faz parte do processo», confessa Rhodes.

A ex-vocalista dos Lamb, revela que compor é para ela um processo natural, mas não necessariamente solitário. «Quando compões surgem sempre mais perguntas do que as que fizeste ao início, é engraçado. Para mim, escrever, não é uma coisa estruturada. É como respirar ou beber água, é uma parte da vida», desabafa a intérprete.
Por agora, Rhodes não pretende voltar ao registo mais electrónico que caracterizava a sua banda de origem. «Não é que nunca mais lá volte. Mas agora a electrónica não me diz nada. A música acústica é mesmo o que quero fazer».

Lou Rhodes é fã de Portugal, um país do qual destaca uma certa preservação do antigo e da história. O mundo onde vivemos está viciado na modernização, que destrói imensas coisas... Aqui em Portugal há toda esta beleza que não é tocada há tanto tempo», afirma a cantora que no sábado actua na Casa da Música, no Porto. O espectáculo está marcado para as 23h00.

Alinhamento
Lou Rhodes – Save me
Lamb – Gabriel
Beth Gibbons – Mysteries
Ane Brun – Lift me
Portishead – Wandering star
Groove Armada – Dusk you and me
Massive Atack – Protection
Lamb – Wonder

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Almas


Percorrer as trilhas da alma
uma alma tateando outra alma
desvendando véus
descobrindo profundezas
penetrando nos escondidos
sem pressa...
com delicadeza...
Porque alma tem tessitura de cristal
deve ser tocada nas levezas
apalpada com amaciamentos...
... até que o corpo descubra cada uma das suas funções

As mãos deslizam sobre as curvas
como se tocando nuvens
a boca vai acordando e retirando gostos
provando os sabores
bebendo a seiva que jorra das nascentes
escorrendo em dons

Abraço que aperta sem sufocamentos
no beijo que cala a sede gritante
na escalada dos degraus celestiais

Corpos ajustam-se
almas matizam...
... e os amantes em assunção pisam eternidades

Barco Ancorado 28/02/2008


O carismático vocalista e líder do GNR faz hoje anos. Rui Reininho completa 53 anos. Rui Manuel Reininho Braga nasceu no Porto, a 28 de Fevereiro de 1955. Estudou cinema no Conservatório Nacional e em 1977 colaborou com Jorge Lima Barreto no projecto Anar Band. Em 1981, torna-se vocalista do GNR, e depois da saída de Vítor Rua em 1982, o seu principal mentor e figura mais destacada. Com o GNR, Rui Reininho criou uma série de canções que são o espelho de uma geração da juventude burguesa que cresceu e se tornou adulta a ouvi-los e a admirá-los: Dunas, Efectivamente, Bellevue, Pós-Modernos, Vídeo Maria, Pronúncia do Norte, Ana Lee, etc.
Reininho tem um filho, fruto da relação com a ex-mulher, a actriz Alexandra Leite. Por força do aniversário de Rui Reininho, hoje falamos do GNR no Barco Ancorado.

O estatuto de banda de culto conseguido em finais dos anos 80 e o sucesso comercial em inícios de 90 deram ao Grupo Novo Rock uma dimensão até então inimaginável para qualquer banda portuguesa. A única banda nacional que conseguiu encher o Estádio de Alvalade - é esta a dimensão do GNR.
Os caminhos do G.N.R. começam no Porto, em 1980, quando Alexandre Soares, Vítor Rua e Toli César Machado ensaiam formações e sonoridades que resultariam no primeiro single, "Portugal na CEE". O segundo registo em single, "Sê Um GNR" revela uma vez mais o carácter inovador da banda. O êxito de vendas é considerável com ambos os discos a venderem na ordem das vinte mil cópias.
Em Setembro de 1981, dá-se a entrada de Rui Reininho. "Independança" foi a designação do primeiro longa duração editado um ano mais tarde. Depois de alguns conflitos internos e de indefinições constantes na constituição da formação, em 1983 surge o esqueleto definitivo do sucesso: Alexandre Soares na guitarra, Jorge Romão no baixo, Toli César Machado na bateria e Reininho na voz. A saída de Vítor Rua provocaria ainda conflitos. Em causa estavam os direitos de autor e a propriedade do nome da banda. O ano de 1984 deu lugar à edição de "Defeitos Especiais" e a uma tournée promocional com bons resultados. "Os Homens Não Se Querem Bonitos", terceiro álbum, editado no ano seguinte, foi aclamado por todos. Da crítica aos ouvintes toda a gente cantou "Nas dunas...".

O ano de 1986 é o da consagração definitiva com 'Psicopátria'. Em plena crise de identidade do rock português, o G.N.R. superara as melhores expectativas e consegue um disco de prata. Temas como "Efectivamente", "Pós-Modernos" ou "Bellevue" transformaram-se rapidamente em referências de uma banda que começou a ver os frutos comerciais do seu trabalho. Depois da edição do disco, deu-se a saída de Alexandre Soares, dando lugar a Zézé Garcia que, por sua vez, acabou por sair em 94. "Vídeo Maria" de 1988, um EP que provocou alguma celeuma em certas rádios por alegadas "heresias" constantes na letra, foi o passo seguinte e revelou Toli como o compositor de serviço. O percurso de triunfo em todas as frentes continuou com "Valsa dos Detectives" de 1989. O estilo pop/rock do G.N.R. era agora claro, depois de diferentes espaços sonoros visitados em outros tantos anos de crescimento. Em 30 de Abril e 1 de Maio de 1990 esgotam o Coliseu de Lisboa, gravando o que seria o polémico "GNR-In Vivo". Vítor Rua que ainda não tinha desistido da demanda de direitos de autor sobre a banda, conseguiu que a primeira edição do disco fosse retirada, obrigando a uma segunda edição, já sem temas da sua autoria.
"Rock In Rio Douro", álbum de 1992, significou a venda de 94 mil cópias, 38 semanas de permanência no top nacional e 40 mil pessoas a assistir ao primeiro concerto de uma banda portuguesa em Estádio. Os duetos de Reininho com Javier Andreu em "Sangue Oculto" e com Isabel Silvestre em "Pronúncia do Norte" foram dois dos pontos altos do trabalho.
O ano de 1996 deu lugar à edição de um "best of ". "Tudo O Que Você Queria Ouvir - O Melhor Dos G.N.R." juntou os melhores temas da banda nortenha. A pop, até então disfarçada com sons mais ou menos rock, teve o seu lugar de honra em "Mosquito", que sucedeu a "Sob Escuta" de 1995.

A participação do GNR na banda sonora do primeiro telefilme da SIC "Amo-te Teresa", com o tema "Asas Eléctricas", e a edição de mais um conjunto de originais, "Popless", no qual recorrem aos préstimos do produtor brasileiro Nilo Romero, foram os registos que se seguiram. O disco inclui, também, os temas "Popless" (com direito a videoclip censurado na Televisão) e outros temas como "L's" e "Essa Fada".
Em Fevereiro de 2002 é lançada a antologia "Câmara Lenta" com as baladas mais emblemáticas do grupo portuense. O disco obtém um grande sucesso chegando a nº 1 do top nacional de vendas. "Você" e "Nunca Mais Digas Adeus" são os dois inéditos incluídos neste disco.
No final de 2002 é editado "Do Lado dos Cisnes", produzido novamente por Nilo Romero, que mostra o GNR de volta ao rock.
Em 2003 gravam uma nova versão (acústica) de "Canadádá", com a participação do brasileiro Paulinho Moska.
E chega 2006, ano em que os GNR comemoram os 25 anos de carreira. A banda portuense teve um ano em cheio com a edição do CD de tributo "Revistados 25-06", a actuação no Rock-in-Rio Lisboa e o lançamento do Best Of "ContinuAcção - O Melhor dos GNR vol.3". A colectânea, composta por dois CDs, apresenta vários temas emblemáticos do grupo, algumas raridades, a que se juntam dois novos: um inédito ("Continuação") e uma versão de "Quero que Vá Tudo Para o Inferno", original de Roberto Carlos, que obteve airplay nas rádios nacionais.
A música "I Don't Feel Funky (Anymore)" é uma oportunidade rara de ouvir a banda a cantar em Inglês.
Para culminar as comemorações das bodas de prata da carreira, os GNR actuaram nos Coliseus do Porto e de Lisboa.

Alinhamento
GNR - Saliva
GNR - Dunas
Rui Veloso – Cavaleiro andante
Humanos - Rugas
GNR – A culpa é do mosquito
Rádio Macau – O anzol
Xutos & Pontapés - O homem do leme
GNR – Nunca mais digas adeus

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Barco Ancorado 27/02/2008


Os Kings Of Convenience e os Beirut actuam em Portugal em Julho deste ano. As duas bandas integram uma lista de mais de 20 espectáculos apoiados por uma rede móvel de telecomunicações. A apresentação dos concertos, bem como de todo o plano de iniciativas da empresa na área da música, decorreu na última terça-feira, no Santiago Alquimista, em Lisboa.
WrayGunn, Shout Out Louds, The National, Cat Power, Animal Collective, Clã e Cool Hipnoise também vão protagonizar espectáculos com o apoio da mesma rede, que patrocina, igualmente, o festival Alive!.
A iniciativa contou, também, com um showcase de Rita Redshoes, no qual a artista interpretou alguns temas do seu álbum de estreia, "Golden Era", cuja edição está prevista para a segunda semana de Março.
Esta quarta-feira destacamos os Kings Of Convenience no Barco Ancorado.


Erlend Oye é ruivo, despenteado e usa uns óculos quadrados, daqueles que parecem ter sido herdados do avô e que lhe terão certamente valido muito carolos na escola. Consta que acredita que nasceu para comunicar, missão que cumpre com gosto e grande talento quando se apresenta ao serviço em palco.
Eirik Glambek Bow representa o grupo dos tímidos espalhados pelo mundo fora. Mais recatado, com menos queda para a teatralidade, é ele o responsável pelo lado instrospectivo de uma dupla que em Julho de 2002 aceitou o desafio de assentar arraiais no Festival do Meco, de guitarra acústica e piano às costas, em plena comemoração do período de ascensão da música electrónica. Na opinião de muitos, foram os reis da noite.
Chamam-se Kings Of Convenience e em 2001 tornaram-se num dos principais nomes representantes da música norueguesa com o álbum "Quiet is the New Loud", a par do escritor de canções Sondre Lerche e dos mais-virados-para-a-electrónica-Röyksopp.

Erlend e Eirik, os intérpretes dos Kings Of Convenience, são amigos de infância, cresceram juntos em Bergen, uma cidade que, segundo lhes disseram, é parecida com São Francisco. Viveram em Inglaterra, onde estiveram a estudar e a tocar em bandas várias, até que finalmente começaram a tocar em formato duo, apenas com guitarras acústicas. Já nessa altura cantavam composições originais.
Não tardou até que através de uma rede de contactos fossem parar a Manchester, a casa de um elemento dos Alfie. Por lá conheceram Badly Drawn Boy e gravaram o primeiro disco, um trabalho homónimo, que foi editado em 1999 através da editora americana Kindercore. Os tempos que se seguiram foram passados em estúdio com as atenções centradas sobre "Quiet is the New Loud", que em 2001 lhes valeria a aclamação generalizada por parte da crítica.
No mesmo ano foi editado o álbum "Versus", onde foram reunidas versões dos temas originalmente incluídos em "Quiet is the New Loud", revistos por nomes como os Röyksopp, Four Tet, Alfie, Ladytron, David Whitaker, entre outros.

Alinhamento
Kings of Convenience – Homesick

Kings Of Convenience – Misread
Cat Power - How Can I Tell You
Elliott Smith - Memory Lane
Belle & Sebastian – Expectations
Kings Of Convenience - I'd Rather Dance With You
Rilo Kiley - Silver Lining
Sondre Lerche - Two Way Monologue
Kings Of Convenience - Manhattan Skyline

Gritos de sangue


Gritos de sangue
Sintaxe do meu corpo
Sangue imaginário do meu cérebro
Gangrena sobre a página

As palavras deslocam-se
sem cessar
para o reino da sensibilidade
Penetram a alma
e reinauguram o corpo

Totalidade de garras
Disponibilidade de relvas
onde todos os órgãos
religados pelas raízes do gozo
são as asas do corpo

Entre a árvore e o sonho
uma síntese de gritos
entre brumas
dispara o teu corpo
contra mim

O poema é a unidade do fogo
Deste fogo geológico que teceste
Por ele seguirás o dilúvio
Chamas desgrenhadas pelo vento

Todas as erupções
Todos os deslocamentos
Por eles encontrarás
o fogo da unidade que perdemos

Um escuro mar lança-se às docas
Na garganta do caminho
a pedra inscreve um grito de cidade
Deparamo-nos com o enigma

(Cabe-nos devorá-lo)


Um grito de cidade corroeu-me
todas as gargantas
Nos rins das pedras que nos devoram
esta pasta íntima dos anos verdes mortos

Um escuro mar lança-se às docas
sobre a lentidão das cargas de cinzas
Não sei há quanto tempo
estou neste porto esquivando-me das sombras

É preciso voltar ao fogo íntimo do convés
É preciso medir o tempo
entre poema e realidade

Um escuro mar lança-se às docas

(Cabe-nos devorá-lo)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Barco Ancorado 26/02/2008


A britânica Joss Stone é o mais recente nome confirmado para o Rock In Rio Lisboa. A cantora de 'Super Duper Love' apresenta-se no Palco Mundo do festival a 1 de Junho, antecedendo a actuação de Rod Stewart.
Joss Stone passa esta terça-feira pelo Barco Ancorado.

Joss Stone traz ao Rock In Rio Lisboa os seus três discos, "The Soul Sessions" (2003),"Mind, Body & Soul" (2004) e o recente "Introducing Joss Stone" (2007), que deram a conhecer temas como 'You Had Me', 'Right To Be Wrong' e 'Tell Me 'Bout It'.
No mesmo dia, 1 de Junho, apresentam-se David Morales, Dimitri From Paris, Tony Humphries, Mário Roque e Leote.
Os bilhetes para o Rock In Rio vão estar à venda a partir da próxima quinta-feira.

Jocelyn Eve Stoker, ou simplesmente Joss Stone, representa uma das maiores vozes da cena pop/soul da actualidade. Com apenas 18 anos e uma carreira no início a cantora britânica tem conhecido um sucesso meteórico mas consolidado. "The Soul Sessions" foi o álbum de estreia, lançado em 2003, tendo Joss Stone apenas 16 anos. O disco reflecte em completo as referências musicais com que cresceu: o R&B e o soul. Aretha Franklin é uma das suas maiores influências e foi através da interpretação de um tema seu -'(You Make Feel Like a) Natural Woman' -, no concurso de talentos "Star For a Night", da BBC, que Joss Stone, com apenas 14 anos, atraiu as primeiras atenções do showbizz sobre a sua voz.

Em Março de 2007, aos 19 anos de idade, Joss Stone lançou o álbum "Introducing Joss Stone", apresentado pelo single 'Tell Me 'Bout It'. Do registo consta, igualmente, o tema 'Music', interpretado em parceria com Lauryn Hill, bem como a faixa 'Tell Me What We Gonna Do Now', com a colaboração de Common . A produção do terceiro longa-duração da cantora é assinada por Raphael Saadiq, conhecido pelo trabalho com D'Angelo, The Roots, ou Macy Gray.

Alinhamento
Joss Stone – Spoiled
Joss Stone – Tell me´bout it
Amy Winehouse – You know I´m no good
Pink – Don´t let me get me
Joss Stone – Right to be wrong
Norah Jones – Shoot the moon
Alicia Keys (ft Tony Tone) – Diary
Whitney Houston & Enrique Iglesias – Could I have this kiss forever
Joss Stone – You had me

Solidão


Sombras. Assombros!... Escombros!
Faces soerguidas e perdidas pelo mural da vida

Passa como passa
O tempo em negras fumaças...

Os vitrais partem-se e traem
Mostrando o presente moribundo

A semente perdida desfaz-se
Na terra húmida e hostil
Segregada de ódios e molhada de lágrimas

Novamente a era da incerteza...
O tempo perdido em vão
O espaço coberto de negras nuvens...
Anunciando a solidão

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Barco Ancorado 25/02/2008


Os convites para o concerto de Bryan Adams no Maxime, em Lisboa, a 7 de Março, esgotaram em apenas 20 minutos.
Os ingressos foram disponibilizados na última quarta-feira, através da pré-venda, na FNAC online, do novo disco do cantor canadiano, "11". Mas segundo revelou a editora do artista já não é possível obter mais convites.
A actuação em Lisboa marca a estreia mundial da apresentação do novo registo, que Bryan Adams vai levar a mais 10 cidades europeias. Ao todo são 11 espectáculos intimistas, em pequenas salas, nos quais o cantor se irá apresentar em formato acústico, acompanhado apenas de uma guitarra e de uma harmónica.
"11" tem lançamento marcado para dia 17 de Março e é precedido pelo single 'I Thought I'd Seen Everything'.
Quanto ao concerto no Maxime começa às 16h30.

Bryan Adams é destaque no Barco Ancorado desta segunda-feira.
Alinhamento
Bryan Adams - Have you really loved a woman
Bryan Adams - Everything I do, I do it for you
Rod Stewart - When I need you
Chicago - If you leave me now
Bryan Adams - Please forgive me
James Taylor - You´ve got a friend
Bryan Adams - Summer of 69

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Insónia II


Alma de cristal velando angústias de metal

Sonhos de papel embrulhando o ódio sem quartel

Lembranças de coral gerando dores sem moral

Essa é a luta

a disputa

a labuta

a contenda

entre o ser e o seu destino,

entre o amor e o seu verdugo,

entre a noite e a sua insónia


Boas intenções...

duras traições...

fundas ilusões...

só desilusões,

trazendo a raiva e roendo o grito

e lambendo o verso

que esculpe sem rima

essa espera

essa entrega

essa angústia

que sem trégua aperta fundo

e mansamente inunda com calado pranto

as olheiras trasnoitadas

carregadas de partidas sem retorno,

de ausências sem motivo,

de olhares carentes,

clementes,

silentes,

dementes.

Assim fabrica a noite o seu discurso

até que o sono se rebele e diga basta!..

Impondo mansamente a calma,

anestesiando docemente a angústia,

inaugurando finalmente o sono

Não sei que faço aqui


Eu não sei o que faço aqui
sei que faço alguma coisa
pequenas coisas sem importância
às vezes aborreço-me
não é grave
fico apenas um pouco mais triste
depois levanto a cabeça
os ombros vacilam
transporto uma loba
mas não sei até quando
uma loba que vai deixando o pelo
na casa do poema na cave acumulada
por um sábio que não sabe nada
nem cuidar de si
nem cuidar dos homens
aparentemente foi tudo morrendo
neste reino de pequenos casamentos de conveniência:
ficaram figuras de musgo
que não conhecem a separação entre o ser e as nuvens
As nuvens que envolvem os caminhos do corpo
as pegadas de um vírus que não cessa de cantar o pó,
tão fácil de soprar
Chove
A chuva pede que me cale

Amores passados


AMORES PASSADOS


Amores passados, perdidos, partidos,

apenas convidam ao silêncio,

e a confissão, e a solidão,

florescem implacáveis na ponta da língua,

como brados, como adagas,

e então, ao pretender o afago,

apenas desenho um lamento profundo,

e ao tentar esquecer o inesquecível

implanto as lembranças na retina da memória,

que dói como se fosse o dia da partida

e não a hora das reminiscências.

O eco dos teus pés- que já foram o meu chão -

retumba a cada passo que caminho

nesta doce amargura escandinava,

escondido entre loiríssimos cabelos e branquíssimas mentiras.

A noite do tempo deitou-se

para sempre entre nós,

como águas em barco,

como margens sem rio

como um dia sem horas.

Horas que ficam dias

teimando em reviver os instantes

que não voltam,

apenas desamarram as palavras

que impunes e sem medos

escrevem letra a letra

rabiscando um retorno ao passado,

esculpindo um desejo de futuro.

Nem mais,

nem menos,

nem muito ou pouco,

nem tarde ou nunca:

um tudo ou nada.

Barco Ancorado 22/02/2008



Faz amanhã 21 anos que morreu um dos símbolos maiores da música portuguesa. José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, José Afonso ou simplesmente Zeca Afonso, teve uma carreira repleta por uma produção constante que foi só interrompida pela fatalidade da morte, em 1987. Ao longo dos anos, Zeca Afonso mostrou a sua contínua capacidade criativa em inúmeros registos, sempre caracterizados pela sua ecléctica forma de composição.




Este sábado, completam-se 21 anos sobre a morte de Zeca Afonso. Em 1982, foi pela primeira vez diagnosticada a doença responsável pelo seu desaparecimento. Zeca Afonso padecia de esclerose lateral amiotrófica, caracterizada por uma lenta atrofia muscular. No ano seguinte, foi editado o duplo álbum "Ao Vivo no Coliseu", resultante de uma apresentação feita no Coliseu dos Recreios a 29 de Janeiro. Ainda nesse ano, Zeca Afonso foi agraciado com a Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra, antes da recusa em receber a Ordem da Liberdade dada pelo então Presidente da República Ramalho Eanes.




O ano de 85 trouxe a edição de "Galinhas do Mato", naquele que foi o último registo em vida de Zeca Afonso. A doença manifestou-se então de forma mais forte, e Zeca abdicou inclusive de cantar todos os temas, sendo que as aparições de Helena Vieira, Luís Represas, José Mário Branco e outros, proporcionaram as restantes vocalizações.




A doença venceu Zeca Afonso no dia 23 de Fevereiro de 1987. Faz amanhã 21 anos. O funeral contou com a presença de mais de trinta mil pessoas, numa digna homenagem a um dos compositores maiores que o país conheceu.O Barco Ancorado faz hoje a justa homenagem a José Afonso.




ALINHAMENTO


José Afonso - Balada de Outono


José Afonso - Cantigas do Maio


Adriano Correia de Oliveira - Canção com lágrimas


Sérgio Godinho - Pode ser alguém quem não é


Fausto - Peregrinações


José Afonso - Que amor não me engana


Carlos Paredes - Despertar


José Mário Branco - Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades


José Afonso - A morte saíu à rua