quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Escrevo (II)


Escrevo porque não me preciso, porque me impreciso, porque ordenei massacres, porque fui aonde não deveria ter ido, pisei areias movediças, andei em labirintos e converso com fantasmas, porque beijei as bocas malditas, porque beijei as bocas, porque beijei e trago as impressões digitais queimadas nas labaredas do ventre, dado, da mulher.
Porque sofro de silêncios intermináveis, atávicos, porque conjuguei orações profanas, porque tenho distâncias entre o que sou e o que me faço ser, porque não me compreendo e nem me explico. Rendo-me às palavras. Porque elas são as minhas rezas, o meu código, a minha ponte levadiça, tábua de salvação, minha expiação, analgésico, comida, manto, tragédia e glória.
Porque assim posso dar mesmo o que não tenho, o que me é escasso, porque assim posso esperar que tu, fêmea - destino, busca - me salves da penúria...

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