terça-feira, 17 de junho de 2008

Palavras (III)


Apreendendo o sentido dos termos, precisamos também apreender a sua insubstancialidade, o seu vazio, seu significado oculto. O mistério da palavra é profundo e poderoso, mas completamente passível de ser atingido por qualquer um. Por trás de tudo o que eu digo – seja verdadeiro ou falso, consciente ou auto-iludido – a minha verdadeira face apresenta-se. Toda a nossa condição humana depende de como sabemos expor as nossas ideias, e o quanto estas ideias representam as verdades mais saudáveis da sabedoria humana. Não há como disfarçar o engano e a falsidade nas palavras; mesmo aqueles que são capazes de suprema dissimulação, jamais lograram manter a sua falsa palavra por muito tempo. Da mesma forma – e pelos mesmos motivos – que as mentes violentas, cruéis e fanáticas são incapazes de sustentar os seus erros por muito tempo sem cair no esquecimento, descrédito ou vergonha, também as palavras brutas, frias, insensíveis ou imaturas não se sustentam mais do que bolhas de sabão.
Diante da necessidade de diálogo e aprendizagem, o praticante deve saber que o exercício da consciência depende do grau de sensibilidade em reconhecer a verdadeira meta. O objectivo final não pode ser expresso pelos signos e palavras, mas somente através deles poderemos reconhecer a existência de um sentido para a vida. Assim, qual é o pleno exercício de compreensão? Abrir-se para o mundo com liberdade de espírito e desprendimento dos conceitos. Além do egoísmo, as palavras são o meio mais eficaz de superação do actos de sofrimento, miséria, dor e iniquidades que o Homem faz contra si mesmo.
O caminho da eloquência e sabedoria passa por grandes descobertas humanas e engrandecimento pessoal. Será através dele que poderemos atingir a outra margem do rio da existência. Naquela margem habita o segredo mais belo e valioso: coerência nas acções e economia de palavras.

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