sexta-feira, 13 de junho de 2008
Palavras II
Como praticar o dom da palavra? O primeiro passo para aprender esta arte é calar-se e escutar atentamente. Curando a nossa tendência de nos expressarmos inexoravelmente, sem jamais praticar a paciência de escutar ou entender. Devemos aprender a reconhecer melhor o sentido dos nossos pensamentos e opiniões. Ao fazer isso, atingiremos o entendimento crucial daquilo que estamos imaginando expressar, e assim saberemos se o que estamos a dizer é correcto. O mesmo processo se dá para as palavras alheias. A base da discordância entre os homens está no facto de que nos apegamos ao nossos argumentos, continuamos a falar ou a expressarmo-nos sem prestar atenção a mais nada, prendendo-nos ao sentido frio dos termos, ficando surdos ao que é dito pelos outros. E então, esquecemos que o acto de compreender deveria ser o objectivo de todo o diálogo. Sem compreensão atenta, a palavra limita-se a exprimir os ecos das nossas próprias ilusões, fantasias, racionalismos, ódios ou preconceitos.
Ouvir atentamente não é fácil. Corremos o risco de ouvir coisas duras e cruéis. Podemos ter que nos defrontar com ideias e opiniões constrangedoras, assustadoras e desprezíveis. Mas sem o esforço da escuta atenciosa, jamais saberemos usar a palavra com sabedoria. É preciso mergulhar fundo nas palavras alheias para que possamos expressar as nossas próprias palavras com cuidado e correcção. Entretanto, este enfrentamento não significa nem justifica agir com arrogância ou combatividade; podemos ouvir e falar sem cair na dor da disputa, da ofensa ou da agressão. Eis o melhor modo de atingirmos os méritos da linguagem verbal e escrita.
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