quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Barco Ancorado 29/01/2009
Não é seguramente todos os dias que se ouve um álbum de qualidade tão eloquente quanto "Working on a Dream". O longo mais recente de Bruce Springsteen habilita-se ao pleno raro de conseguir agradar a gregos e a troianos. Se por um lado, este se afigura como o álbum mais disponível para conquistar o grande o público desde "Born in the USA" (de 1984); por outro, tem uma elaboração comparável a "Born to Run" (de 1975). A colheita de grandes canções com capacidade de projecção popular é fértil; mas também o é a imaginação fílmica de Springsteen que toma conta de cada canção ou o número de pistas musicais que o tabuleiro completíssimo da E Street Band oferece, de guitarras tão bem dedilhadas, de órgãos e pianos tão bem tratados, e de percussão tão eficiente, a que se acrescenta a assiduidade de arranjos de cordas que se identificam com a grandeza do disco.
De uma forma geral, "Working on a Dream" é uma obra de 12 canções (além do tema-bónus 'The Wrestler' para o filme do mesmo nome) de música americana à mais larga escala (meltdown de rock & roll, country e blues), de refrões épicos e de execuções gloriosas, com camadas de coros a virem de mil e uma direcções. Claro que estamos a falar de mais um álbum de Bruce Springsteen. Ou estaríamos. Raramente, o lado físico de ex-trabalhador das docas esteve tão coordenado com o intelecto bem trabalhado de homem culto e cavalheiresco, como neste disco.
A faixa de abertura 'Outlaw Pete', é um exemplo de serpenteado, tão grande de duração quanto de dimensão, servido por uma letra de narrativa western que demonstra as potencialidades de grande escritor que é Springsteen. 'My Lucky Day' é a canção rock optimista de estádio, que mobiliza quaisquer tropas. 'Queen of the Supermarket' é a balada grandiloquente, no espírito poético de 'Rosalita' (clássico antigo de Springsteen, ainda hoje muito reconhecido), com uma letra insólita que estabelece uma proporção exacta entre o absurdo de uma situação banal - o enamoramento do cliente pela mulher da caixa - e a beleza emocional da paixão que daí advém; ou Bruce Springsteen novamente em alta, do peso do seu enorme talento de compositor.
No melhor rock sem rodriguinhos, 'Working on a Dream' e 'What Love Can Do' têm a magia para espicaçar o nosso lado mais rebelde. E nos melhores momentos de meditação mais íntima, 'This Life' e 'Kingdom of Days' são bilhetes amorosos para longas viagens românticas de quatro minutos cada. E quando se desliga a máquina rockeira de Bruce Springsteen e da sua E Street Band (que, curiosamente, não está creditada na lombada do disco), ouve-se, sem filtros e em estado puro, o blues citadino e raivoso de 'Good Eye' ou a americana de 'Tomorrow Never Knows'. Tudo sempre em grande estilo.
Em jeito de remate final, 'The Last Carnival' é uma especialidade sua, a canção rústica atmosférica, que se converte no espelho do músico e deste álbum: um monumento de agigantamento e de transcendência humanos. Muito humanos.
Alinhamento
Bruce Springsteen – Working on a dream
Bruce Springsteen – Kingdom of days
Bob Dylan – You belong to me
Neil Young - Stringman
Bruce Springsteen – Outlaw Pete
Van Morrison – Brown eyed girl
Tom Petty – Into the great wide open
Bruce Springsteen – The wrestler
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