terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Adeus


O adeus entre eles foi adeus de despedida.
Adeus de separação não pronunciado,
como o é entre enamorados.

Ficou espaço para possível arrependimento,
deixado entre os adeuses silenciosos e repetitivos.

Nenhum tremor anunciou o fim do mundo.
A brisa não se fez vendaval para criar bocas negras
no mar com fome de engolir naus e marujos,
e depois regurgitar os destroços em terra.

Nenhuma nova desgraça,
as mesmas bruxas rogando as velhas pragas.
Ninguém declarou guerra além das de sempre.

As árvores verdes ao redor não se agitaram,
os sinos da igreja não dobraram em luto,
os girassóis não deixaram de namorar o sol,
e os lírios beijados pelo orvalho exalam
o mesmo perfume delicado por todo o vale.

Os poemas de amor não se perderam tristes,
nem se escreveram com lágrimas de sangue.
Tudo igual no dinamismo de acomodação da vida.

Ele e ela regressaram ao que os aguardava
no mesmo lugar durante a ausência.
Ambos de volta aos amigos e ao tempo que era.

O pedaço de cada um que amou o outro,
doeu profundo e ficou entristecido,
vivendo a falsa liberdade que não devia ter sido.
E foi muito estranho sentirem-se sozinhos,
estando mais acompanhados.

Depois, no fluir do tempo, a distância se fará.
Menos nítida... cada vez mais longe...
As imagens físicas, dele e dela, serão desvanecidas,
e substituídas por mentiras menos verdades,
por falsidades menos mentiras...

O horror do amor transformando-se em desculto.
Os espaços que o bem querer deles ocupava
desaparecerão nas lembranças,
e as palavras de amizade serão mais difíceis.

Uma vez ou outra voltarão como fantasmas.
Difícil o desapego amante querendo a devolução
do amigo dentro do peito...
Como um vício do qual decidiram livrar-se...
ainda com desejos insatisfeitos.

Mas com o tempo, embora a paixão subsista tatuada
nas profundezas da alma,
a razão nem saberá lembrar o porquê.

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