quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Olhar nos olhos


Não consigo olhar nos olhos
da mancha opaca, entreposta entre mim
e o outro lado da neblina translúcida.
O olhar embaciado da forma não segura.
O meu olhar que demora.

Fico sem saber se o semblante está dentro
ou está fora das coisas distorcidas
que antevejo.

Não me vejo mesmo nos laivos irreais
do lado de lá do véu.
A minha verdade certamente é outra.
A dos pensamentos errantes,
mas que o coração sabe sentir sem engano.

A minha alma não é moribunda,
não anda perdida nos espaços em branco.
Como as letras que voam em círculos,
procurando uma palavra,
onde possam pousar o verbo mais sentido.

A minha alma sonha, mas não se distancia,
não se desvanece do outro lado da vidraça.

Deixa rastos.
Deixa marcas.
Fica tatuada dentro das outras almas
que abraça,
e fundem-se numa mesma verdade.

Assim os meus olhos possam demorar
no olhar que me olha.

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