sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Vem tranquilidade
Vem tranquilidade e leva-me mentiras da fé, os derrotados
que se arrastam como sombras esquálidas por entre hinos e
incensos, pagando promessas na floresta do instinto sáfaro.
Leva-me deste abúlico abandono azul na concha do sono.
Deste labirinto de colunas, vitrais, escadarias e arcos góticos.
Tira-me deste agnóstico peito bíblico de silêncio e vergonha,
para longe das emudecidas sentinelas marmóreas dos mitos.
Leva-me a conhecer velhos tripulantes insanos que buscam
a eternidade e que eles me façam crente além das doenças que
arrastam como fado inevitável que lhes foi deixado ao nascerem.
Vem tranquilidade e leva-me contigo como erradio cigano de
sorriso aberto e violino raro. Da poesia em busca dos versos
dourados de imagem serena. Leva-me com os meus lábios
que chegam à altura dos beijos e enreda-me com a
maciez dos ventres das moças, com a alvura de uma oração.
Vem tranquilidade e envolve-me com a doçura das cerejas encarnadas
e faz-me vibrar com o frémito das virgens,
com a tolerância de quem permite aos lábios um espaço absoluto.
Vem, e desponta originária dos mares pérola das noites errantes.
Torna regular o caminho cardíaco das visões de novos nomes,
Novas naus, novas velas, novos ventos, novos pulsos.
Vem tranquilidade com força e vertigem do redemoinho tantálico,
mas permite-me beber do vinho, da água e comer dos frutos.
Faz ninho nas flores que se abrem nas mãos das namoradas.
Deixa outras vozes se comoverem com os anjos dourados que
fugiram da lua e escrevem na manhã do nevoeiro letras minhas.
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