terça-feira, 27 de maio de 2008

Poeira


A poeira dos mendigos em cinza e trapos
dos jardins mortos de sede
dos bazares tristes, com a seda a murchar ao sol
a poeira dos mármores foscos
dos zimbórios tombados
dos muros despidos de ornatos
saqueados num tempo vil

A poeira dos mansos búfalos em redor das cabanas
das rodas dos carros, em ruas tumultuosas
do fundo dos rios extintos
de dentro dos poços vazios
das salas desabitadas, de espelhos baços

A poeira das janelas despedaçadas
das varandas em ruína
dos quintais onde os meninos
brincam nus entre redondas mangueiras

A poeira das asas dos corvos
nutridos de poeira dos mortos
entre a poeira do céu e da terra

Corvos nutridos da poeira do mundo

De poeira da poeira

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