terça-feira, 27 de maio de 2008

Barco Ancorado 27/05/2008


Depois da última passagem por Portugal, com um concerto na Aula Magna, Cat Power teve honras de casa esgotada naquela que é considerada a mais mítica sala do país, o Coliseu dos Recreios. A cantora ainda tem dificuldade em enfrentar o público olhos nos olhos e só o conseguiu fazer mais ou menos a meio do espectáculo. Para disfarçar o nervosismo confesso desliza de um lado para o outro do palco, dá alguns goles nos copos que traz consigo ou dirige-se no final dos temas ao responsável pelo som para, com justiça, diga-se, acertar alguns pormenores técnicos.
Independentemente de tudo o que possa não ter corrido bem, Cat Power merece reconhecimento e o Barco Ancorado presta-lhe hoje tributo.

Qual adolescente, Cat Power apareceu em Lisboa com o seu ar jovial de sempre. E é essa, sem dúvida, a imagem que lhe assenta em palco, traduzindo um misto de imaturidade e insegurança com inconsequência, alheamento e irreverência. E esta, porque apesar de tudo se tratou de um bom espectáculo, serviu igualmente para criar belos momentos ao longo do concerto."Jukebox", o novo álbum de versões da songwriter, foi o pretexto para este regresso e a base de trabalho para novas roupagens que Cat Power quis dar ao vivo a temas de outros que já tinha moldado à sua maneira. Bob Dylan foi um dos ilustres homenageados no disco e grande parte das interpretações da cantora trouxe os ecos das suas caraterísticas vocais, aqui em forma feminina.

O blues foi tónica dominante no concerto de Cat Power na mítica sala das Portas de Santo Antão. Ora mais calmo, ora com nuances mais rock, folk e nalguns casos psicadélicas.' Woman Left Lonely' lembrou um pouco a evocação a Dylan, seguindo-se 'Don't Explain' (Billie Holliday), que a cantora escolheu para abrir a sua actuação. 'Silver Stalion', num tom mais country mas com mais brilho que na versão em disco rendeu à artista os primeiros grandes aplausos da noite, até porque traria ao de cima as suas capacidades vocais. 'New York, New York', prolongaria por mais um pouco o momento. 'Naked If I Want To', representou outro dos pontos altos da noite, servindo para Cat Power evidenciar a sua voz, em todo o seu esplendor, com uma grande interpretação. 'Song To Bobby' foi das poucas a ser cantada de olhos postos no público. Com a bateria e a guitarra a soarem ao de leve, 'She's Got You' representou uma espécie de bálsamo a antecipar a sua vertente mais aguerrida e mais rockeira em 'Metal Heart'. 'Blue' deixou-a acompanhada só pelo piano e pelo baixo antecedendo uma passagem indistinta para aquilo que se suporia ser um encore com 'The Moon' a dar a deixa para 'The Greatest' revisitado pela metade e inacabado para desilusão de muitos, que fizeram saber ao som dos seus aplausos, que este era um dos mais esperados da noite.

No final do concerto no Coliseu dos Recreios, Cat Power desceu do palco e cantou em cima de uma das cadeiras da primeira fila, numa cena a fazer lembrar um pouco o concerto de Patti Smith, ainda que de forma menos efusiva. Cat Power foi a última pessoa a sair do palco e quase que seria uma das últimas a deixar a sala, distribuindo flores pela plateia e despedindo-se com as vénias que foi fazendo ao público ao longo do concerto. Era visível o seu contentamento, pelo esforço e alguns obstáculos definitivamente superados, mas fica-se ainda à espera que regresse para um concerto realmente arrebatador.

Alinhamento
Cat Power – Good woman
Cat Power – How can I tell you
Sufjan Stevens - Jacksonville
Rilo Kiley – Silver lining
Kings of Convenience – Manhattan skyline
Cat Power – The greatest
Sondre Lerche – Two way monologue
Rachael Yamagata – Be be your love
Cat Power – Sea of love

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