quarta-feira, 14 de maio de 2008

Barco Ancorado 14/05/08


"Que se dane o calendário. No dia em que Frank Sinatra morrer, acaba-se o século XX", escreviam os autores de "Classic Pop" em 1991. O século XX acabou, pois, em 15 de Maio de 1998 sem que houvesse alguém que pusesse em causa a afirmação doutro dos grandes, Bing Crosby: "Só há um tipo que é o maior cantor do mundo inteiro. O seu nome é Sinatra. E mais ninguém."

Francis Albert Sinatra nasceu nos subúrbios de Nova York em 12 de Dezembro de 1915 numa família de origem italiana. Começou a carreira em 1937. Foi contratado dois anos mais tarde como vocalista da big band de Harry James e, logo em 1940, passou para a big band de Tommy Dorsey. Tornou-se uma atracção nacional e um êxito comercial. A sua forma de cantar era inovadora: "Eu era um grande fã do Bing. Mas nunca quis cantar como ele porque não havia miúdo no bairro que não fizesse boo-boo-booing como Crosby. Eu queria ser um cantor de um tipo diferente."
Na época do jazz e das big bands de brancos e negros, nenhum cantor podia passar ao lado do jazz no ritmo, na improvisação ou na simulação dessa improvisação, nas alterações aos tempi e às melodias. Sinatra desenvolveu uma técnica que se inspirava no trombone de Dorsey e obrigava a um controle da respiração, permitindo-lhe não só o legato (a ligação entre notas sem pausa) como um distinto portamento ("escorregando" suavemente de nota para nota).

Sinatra desenvolveu também a técnica de cantar para o microfone, cuja utilização vinha dos anos 20 mas não estava ainda incorporada na forma de cantar de muitos vocalistas: "Muitos cantores nunca compreenderam que um microfone é o seu instrumento", escreveu ele. O microfone permitia-lhe cantar sem esforço e com intimismo através de inúmeras subtilezas de outra forma impossíveis e inaudíveis.
A sua carreira prolongou-se por mais de 50 anos. Dos anos das big bands passou pela decadência junto do público jovem mas recuperou a popularidade (e o que é mais importante renovando-se artisticamente) na fase da Capitol, com a colaboração de arranjadores de primeira linha como Nelson Riddle, Billy May e Gordon Jenkins. A sua terceira vida artística como cantor desenvolveu-a na sua própria editora, a Reprise, onde cedo abandonou qualquer veleidade de se adaptar à linguagem pop dos anos 60 e 70 para se concentrar no que sabia melhor que ninguém: os standards da canção americana que ele próprio consagrou como standards.

A quarta vida artística de Sinatra afastou-o dos estúdios e levou-o a concentrar-se nos espectáculos em grandes salas: se os discos não vendiam como antes, as salas esgotavam. A quinta e última fase levou-o de novo à Capitol, onde o esquema dos duetos levou a sua arte a milhões de jovens que o desconheciam. Morreu como vencedor em toda a linha: impôs a sua integridade artística no meio da música pop nos seus próprios termos e sem ceder à vulgaridade e à má qualidade.

Alinhamento
Frank Sinatra – New York, New York
Frank Sinatra – Strangers in the night
Bobby Darin – The other half of me
Tony Benett - People
Sarah Vaughan – All the things you are
Frank Sinatra (ft Bono) – I´ve got under my skin
Michael Bublé - Everything
Diana Krall – A case of you
Frank Sinatra – My way

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