Gritos de sangue
Sintaxe do meu corpo
Sangue imaginário do meu cérebro
Gangrena sobre a página
Sintaxe do meu corpo
Sangue imaginário do meu cérebro
Gangrena sobre a página
As palavras deslocam-se
sem cessar
para o reino da sensibilidade
Penetram a alma
e reinauguram o corpo
sem cessar
para o reino da sensibilidade
Penetram a alma
e reinauguram o corpo
Totalidade de garras
Disponibilidade de relvas
onde todos os órgãos
religados pelas raízes do gozo
são as asas do corpo
Disponibilidade de relvas
onde todos os órgãos
religados pelas raízes do gozo
são as asas do corpo
Entre a árvore e o sonho
uma síntese de gritos
entre brumas
dispara o teu corpo
contra mim
uma síntese de gritos
entre brumas
dispara o teu corpo
contra mim
O poema é a unidade do fogo
Deste fogo geológico que teceste
Por ele seguirás o dilúvio
Chamas desgrenhadas pelo vento
Deste fogo geológico que teceste
Por ele seguirás o dilúvio
Chamas desgrenhadas pelo vento
Todas as erupções
Todos os deslocamentos
Por eles encontrarás
o fogo da unidade que perdemos
Todos os deslocamentos
Por eles encontrarás
o fogo da unidade que perdemos
Um escuro mar lança-se às docas
Na garganta do caminho
a pedra inscreve um grito de cidade
Deparamo-nos com o enigma
Na garganta do caminho
a pedra inscreve um grito de cidade
Deparamo-nos com o enigma
(Cabe-nos devorá-lo)
Um grito de cidade corroeu-me
todas as gargantas
Nos rins das pedras que nos devoram
esta pasta íntima dos anos verdes mortos
todas as gargantas
Nos rins das pedras que nos devoram
esta pasta íntima dos anos verdes mortos
Um escuro mar lança-se às docas
sobre a lentidão das cargas de cinzas
Não sei há quanto tempo
estou neste porto esquivando-me das sombras
sobre a lentidão das cargas de cinzas
Não sei há quanto tempo
estou neste porto esquivando-me das sombras
É preciso voltar ao fogo íntimo do convés
É preciso medir o tempo
entre poema e realidade
É preciso medir o tempo
entre poema e realidade
Um escuro mar lança-se às docas
(Cabe-nos devorá-lo)
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