quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Gritos de sangue


Gritos de sangue
Sintaxe do meu corpo
Sangue imaginário do meu cérebro
Gangrena sobre a página

As palavras deslocam-se
sem cessar
para o reino da sensibilidade
Penetram a alma
e reinauguram o corpo

Totalidade de garras
Disponibilidade de relvas
onde todos os órgãos
religados pelas raízes do gozo
são as asas do corpo

Entre a árvore e o sonho
uma síntese de gritos
entre brumas
dispara o teu corpo
contra mim

O poema é a unidade do fogo
Deste fogo geológico que teceste
Por ele seguirás o dilúvio
Chamas desgrenhadas pelo vento

Todas as erupções
Todos os deslocamentos
Por eles encontrarás
o fogo da unidade que perdemos

Um escuro mar lança-se às docas
Na garganta do caminho
a pedra inscreve um grito de cidade
Deparamo-nos com o enigma

(Cabe-nos devorá-lo)


Um grito de cidade corroeu-me
todas as gargantas
Nos rins das pedras que nos devoram
esta pasta íntima dos anos verdes mortos

Um escuro mar lança-se às docas
sobre a lentidão das cargas de cinzas
Não sei há quanto tempo
estou neste porto esquivando-me das sombras

É preciso voltar ao fogo íntimo do convés
É preciso medir o tempo
entre poema e realidade

Um escuro mar lança-se às docas

(Cabe-nos devorá-lo)

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