terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Barco Ancorado 05/01/2009


A voz que hoje destacamos no Barco Ancorado calou-se no primeiro dia deste novo ano. A cantora Lhasa de Sela morreu pouco antes da meia-noite do dia 1, vítima de cancro da mama .
A notícia, inicialmente desmentida pela editora da artista como um mero rumor, foi depois confirmada por várias fontes oficiais.
"Lhasa sucumbiu a uma luta de 21 meses, que encarou com força e determinação. Ao longo deste período difícil, continuou a tocar a vida daqueles em seu redor com as suas características graça, beleza e humor ", pode ler-se num comunicado.
O Barco Ancorado faz uma singela homenagem a uma voz única e inconfundível. À voz da cantora nómada.

Lhasa de Sela já estava doente quando gravou o seu último álbum, um trabalho homónimo que ainda chegou a apresentar ao vivo, antes de ter de cancelar todos os concertos, para não prejudicar os tratamentos a que estava a submeter-se. Os seus últimos concertos aconteceram em Maio, na Islândia.
No comunicado assinado pelo manager de Lhasa de Sela, escreve-se que a autora de La Llorona deixa o companheiro Ryan, os pais, a madrasta, nove irmãos e irmãs, 16 sobrinhos e sobrinhas, um gato e "incontáveis amigos, músicos e colegas que a acompanharam ao longo da carreira, para não falar dos inúmeros admiradores em todo o mundo".

Lançados entre 1998 e 2009, os três álbuns de Lhasa - La Llorona, The Living Road e Lhasa - venderam cerca de um milhão de exemplares em todo o mundo.
Em Portugal, a "nómada" Lhasa de Sela, nascida nos Estados Unidos mas com profundas raizes no México e nos países francófonos, era uma artista de culto, tendo-se apresentado numerosas vezes nos palcos nacionais.
Vasco Sacramento, da promotora de espectáculo Sons em Trânsito, escreveu num emocionado comunicado que, das centenas de concertos com artistas estrangeiros que já organizou, "Lhasa de Sela foi claramente a que mais o marcou" .
"Não só pela sua voz única ou pela qualidade óbvia das suas canções e dos seus músicos, mas antes pela sua atitude desprendida e diferente do que é habitual assistir em muitos artistas", explica Vasco Sacramento. "Lhasa de Sela não estava interessada no estrelato, na fama ou no dinheiro. Não que quem aspire a isso seja menos válido. (...) Porém, a Lhasa era diferente. Parecia que cantava apenas por imperativo de consciência, sem grandes preocupações com estratégia de mercado. Daí apenas ter deixado três álbuns".

Lhasa amava o fado, principalmente, claro, Amália, que cantou nos seus concertos em Portugal. Lhasa adorava Lisboa, Bairro Alto, Alfama, mas também Sintra, Coimbra. Gostava de comer bacalhau em Xabregas. E o público português sempre lhe dedicou enorme afecto, esgotando todas as salas onde ela actuou no nosso país.
Fora dos palcos, Lhasa de Sela era simples e densa. Simples no trato, na forma como lidava carinhosamente com todos. Densa pela profundidade e maturidade que revelava, provavelmente fruto do nomadismo que marcou toda a sua vida. Lhasa partiu como sempre viveu. Sem grandes alaridos. Partiu livre. Como sempre viveu.

Alinhamento
Lhasa de Sela – De cara a la pared
Lhasa de Sela - Desierto
Lila Downs – La cumbia del mole
Rokia Traoré - Tchamanche
My Brightest Diamond – Goodbye forever
Lhasa de Sela - Peces
Beth Gibbons - Mysteries
Suzanne Vega – Songs in red and grey
Lhasa de Sela – Arbol del olvido

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