segunda-feira, 27 de abril de 2009

Barco Ancorado 27/04/2009


Neil Young recusa-se a atirar a toalha ao chão, seja por que valor for. Como o rock&roll, o carro americano ou a ecologia. As três paixões citadas cabem na cabeça de Young sem contradições e fazem a essência do seu último álbum, “Fork in the Road”.
O estimado carro do músico canadiano, o velhinho Lincoln Continental, reequipado para o uso de energias renováveis e não-poluentes, é o ponto de partida para o seu mais recente álbum anual. Não há novidades substanciais a apontar a “Fork in the Road”. Neil Young continua panfletário e inconformista. E lá está alguma da sua velha guarda, como o teclista e guitarrista Ben Keith ou até a sua mulher, Pegi Young (que brilha nas vocalizações e não só).

O novo álbum de Neil Young é um álbum de crença rock, que podia ter sido feito com os Crazy Horse. A imagem granulada da capa (com o cantor de chapelinho, em polvorosa como um louco), é uma opção visual recorrente no grafismo dos seus discos, que reflete um som distorcido de paternalidade intemporal em relação ao grunge, que ainda resiste neste álbum, saudável.

O rock de “Fork in the Road” é turbulento, desafiador, aventureiro. Tocado em modo ziguezagueante e repetitivo, ignorando parâmetros, quaisquer que eles sejam. Por vezes, é uma jam. Ou um cruzamento entre rock, country e blues, mas numa circulação em rotunda multiplicada por várias voltas. Noutras ocasiões, é uma rispidez punk à velocidade de um carro de corrida americano. Tudo com um estilo antigo.

A agigantar a espiritualidade da armada eléctrica estão os inimitáveis coros que nas músicas de Neil Young parecem polifonias, preciosamente cristalinos, que buscam os agudos da criança que há em cada músico. Como momentos insólitos de relaxamento à austeridade rockeira, figuram apenas “Off the Road”, perfumada pela melancolia de uma condução solitária noite dentro, e a desacelaradíssima “Light a Candle”.
“Fork in the Road” pode ser uma obra um bocadinho menor do artista. Mas tem sabedoria e liberdade. E tem-no de forma eloquente.

Alinhamento
Neil Young – When worlds collide
Neil Young – Fuel line
Bob Dylan – Things have changed
Lou Reed – Modern dance
Bruce Springsteen – Working on a dream
Neil Young – Off the road
Van Morrison – Brown eyed girl
Tom Petty – Into the great wide open
Leonard Cohen - Democracy
Neil Young – Light a candle

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria de saber como correu o concerto de Sérgio Godinho. (Se for possível) Obrigado.

Abel Sousa disse...

Não tive oportunidade de assistir, mas tendo em conta algumas opiniões entretanto recolhidas, terá sido um concerto muito participado - sublinhe-se que a entrada era gratuita - e com um Sérgio Godinho ao seu nível, extremamente profissional e coerente. De resto, o espectáculo apresentado, como se sabe, é bem conceituado.
Um abraço.