terça-feira, 21 de abril de 2009

Barco Ancorado 21/04/2009


Teresa Salgueiro tem novo disco. Chama-se Matriz. Teresa sempre teve qualquer coisa de princesa encantada de outro tempo, uma espécie de Inês de Castro, desde os primórdios dos Madredeus. E este novo álbum, Matriz, confirma essa sensação. A cantora foi à fonte da sua terra para um disco de recolha do arquivo cancioneiro nacional.
Em três decisivos anos, durante os quais anunciou a saída dos Madredeus, este é já o quinto álbum de Teresa Salgueiro. Com o contributo fundamental do remodelado Lusitânia Ensemble, Matriz é talvez a obra mais exigente de todas que Teresa Salgueiro fez sem o cordão umbilical dos Madredeus.

Acompanhada por um septeto (de percussionistas, violoncelista, violinista, acordeonista, contrabaixista e do guitarrista acústico Pedro Jóia), Teresa Salgueiro tenta colar a sua voz angelical aos mais variados cenários históricos da canção tradicional portuguesa. Através de um percurso cronológico crescente ao longo de 20 faixas, Teresa Salgueiro testa a canção medieval, atravessa a época renascentista, arrisca canções tradicionais de rituais locais salvos do esquecimento pelos esforços musicólogos de Michel Giacometti e de Fernando Lopes-Graça, e atreve-se a dar voz a clássicos do fado popularizados por Amália. Salgueiro conclui o disco com a interpretação da famosa composição de Fausto, 'Por este rio acima'.

Carlos Paredes também não é esquecido no novo disco de Teresa Salgueiro em duas músicas instrumentais – Danças palacianas e Danças portuguesas – com fausto de corte. Salgueiro não prescinde dessa vaidade nobre, mesmo quando pega nos populares Vira da desfolhada e Malhão de Cinfães, dando-lhes vestimentas de seda e bons perfumes, transferindo-os da rua para uma festa de gala.

Há momentos desta nova viagem de Teresa Salgueiro pelo tempo que lembram algumas peças instrumentais dos Madredeus, como o idílico início do álbum Espírito da Paz, ou até andanças a solo de um ex-companheiro ainda mais distante, Rodrigo Leão.
Matriz é uma graça, quem sabe, uma experiência individual enriquecedora para a cantora. De tão ambiciosamente académico, o álbum sofre de um complexo de gigantismo, volumoso e desequilibrado demais para se ouvir. É que ao contrário dos volumes de história, os discos são mais exigentes na linha de peso.

Alinhamento
Teresa Salgueiro – Puestos estan frente a frente
Teresa Salgueiro – Por este rio acima
Ana Moura – Fado de Pessoa
Cristina Branco – Sete pedaços de vento
Mariza – Retrato
Camané – A cantar é que te deixas levar
Teresa Salgueiro – Danças palacianas
Rodrigo Leão – Rosa
Dulce Pontes – Lusitana paixão
Teresa Salgueiro – Com que voz

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