Num dia em que o palco principal do Alive! 09 esteve totalmente dominado pelo metal, os outros dois tinham boas alternativas para os apetites menos pesados. Entre eles, os TV on the Radio eram um dos nomes mais estimulantes e deram, muito provavelmente, o concerto da noite - nem que tenha sido apenas na divisão em que foram a jogo, a dos palcos secundários. Ao cair da noite em Algés, a banda de Brooklyn foi recebida debaixo de aplausos e a química instalou-se.
O vocalista (e actor) Tunde Adebimpe encheu o palco com os seus maneirismos cool, ora segurando o microfone e levando a outra mão à cabeça, ora batendo palmas e dançando. Do seu lado direito, o guitarrista e senhor de uma farta barba, Kyp Malone, e, do lado esquerdo, Stuart Bogie da Antibalas Afrobeat Orchestra, no saxofone. O frio metálico do sax pôs-se a reagir com a percussão africana lá atrás o tempo todo, num concerto em que banda e público não poderiam estar mais ligados espiritualmente.
A empatia foi clara: os TV on the Radio tocavam temas como 'Halfway Home' ou 'Golden Age' e o público em baixo respondia com danças entre o descontrolado e o sedutoramente despreocupado. Em quase uma hora de espectáculo, tocou-se o essencial do último "Dear Science" e viu-se em directo a confecção de um dos bolos mais recheados da música actual: rock, jazz de respiração livre e soul, muita soul, e também hip-hop.
Para o final, já depois de Adebimpe se munir de chocalhos, ficou um alinhamento de sonho: 'Red Dress' (a finalizar com voz de sirene), 'Dancing Choose', 'Shout Me Out' e 'Staring at the Sun', esta do álbum "Desperate Youth, Blood Thirsty Babes" de 2004. Entre vozes programadas e em falsete, movimentos concêntricos de ancas, loops indomáveis e teclas infectadas, os TV on the Radio mostraram o que realmente são hoje: nada menos do que uma das melhores bandas do mundo.
Já os TV on the Radio se recolhiam quando, no palco principal do Alive!, Corey Taylor dos Slipknot pedia ao público que cantasse com ele 'Dead Memories', de forma a que se ouvisse do outro lado do rio. Sem ecos de Almada ou do Barreiro, o tema, retirado do mais recente "All Hope Is Gone", inaugurou a última meia hora de um espectáculo que foi o arrazoado habitual de gritos e palavrões. Um concerto da banda norte-americana é um espectáculo essencialmente cénico, a começar pelas máscaras e a terminar no "palhaço" percussionista Shawn Crahan montado num elevador hidráulico.
As brutais descargas de ruído absurdamente elevado, um vocalista que, em boa verdade, não canta, vocifera, uma bateria assassina e risos maquiavélicos. Se não fosse também libertador, o "circo" dos Slipknot seria inconsequente, sobretudo quando Taylor pede o dedo do meio dos elementos do público ou quando faz sinais de cortar a própria garganta. Ou mesmo quando espera bater um recorde (provavelmente de obediência) ao pôr o público a baixar-se e a saltar ao seu comando.
Pelo recinto, andavam entretanto os Homens da Luta, de megafone ao alto e com cartazes a dizer coisas como "Reforma Agrária na cidade" ou "O Povo também quer Ferraris". Eles tinham avisado que estariam no Alive! 09...
Alinhamento
TV on the Radio – Golden age
TV on the Radio – Red dress
The National – Squalor Victoria
Arcade Fire - Rebellion
Yeah Yeah Yeahs - Phenomena
TV on the Radio – Halfway home
The Flaming Lips – Slow motion
Bloc Party - Pioneers
TV on the Radio – Shout me out
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