quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Barco Ancorado 07/10/2010


A importância de ser Guns n' Roses foi o que levou à enchente do Pavilhão Atlântico, em Lisboa. E foi essa mesma importância que fez com que os fãs suportassem e perdoassem um atraso de uma hora e meia a Axl Rose e companhia. Assim que a banda assaltou o palco ao som de 'Chinese Democracy' acompanhada de efeitos pirotécnicos, instalou-se a euforia. Euforia de estar perante Axl Rose, the man itself - uns quilos mais gordo e com a voz mais rouca e pouco comunicativo -, a cantar com os tiques de sempre, chapéu, óculos escuros, lenço na cabeça e um guarda roupa que foi mudando ao longo da noite.

O palco cheio de efeitos cénicos e projecções, com vários níveis ladeados por degraus e pirotecnia a rodos. Uma máquina que é espelho de Axl Rose, megalómano e excêntrico, mas um mestre que dirige uma banda que transpira irreverência, hiperactividade e técnica fora do comum - e uma certa indiferença. Não foi preciso esperar muito para perceber que os três guitarristas que integram os Guns n' Roses no período pós-Slash são necessários: a sua técnica é distinta e fica aprimorada pela vontade de estar em palco. Um quase sonho de poder deitar as mãos a temas como 'Welcome To The Jungle', 'It's So Easy', ou 'Live and Let Die'.

Os Guns mostravam-se pesados: na fúria das guitarras, no ribombar da bateria, no corpo e no espectáculo, o que quase arruinou 'Live and Let Die' com os petardos lançados durante o refrão. E pese embora o falhanço de "Chinese Democracy" - os ânimos arrefeciam com temas como 'Street of Dreams', quase sempre acompanhados de projecções de gosto duvidoso -, o concerto decorria a bom ritmo, espaçado pelos solos dos talentosos guitarristas. E aí percebemos que DJ Ashba é uma cópia de Slash: a mesma técnica, os mesmos maneirismos, uma cartola, um cigarro na boca... Mas falta-lhe o sentimento. Que é o mesmo que dizer que lhe falta tudo para que 'November Rain' - em modo triunfal e pirotécnico - ou 'Knockin' On Heaven's Door' sejam o monumento que são em disco.

'Don't Cry' levantou os isqueiros da plateia, a épica 'Madagascar' embarcou o público numa viagem pontuada por sintetizadores e distorção antes de arrancar para 'Whole Lotta Rosie', «uma balada de amor sobre uma senhora muito, muito, muito, muito gorda», disse Axl. E foi após este momento que ficou mais uma vez a descoberto o grande problema do concerto: as quebras no alinhamento. Sempre que a banda arrancava para uma prestação mais acelerada, entremeava-lhe um tema mais parado, o que nunca permitiu que o público se soltasse totalmente nas duas horas e meia de actuação. Mas 'Paradise City' é 'Paradise City' e nada melhor para encerrar. Foi bom, mas dificilmente memorável.

Alinhamento
Guns n´Roses – Chinese democracy
Guns n´Roses – Used to love her
Aerosmith - Cryin
Scorpions – You and I
Guns n´Roses – Knockin´on heaven´s door
Bon Jovi – In these arms
Guns n´Roses – Paradise city

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