terça-feira, 5 de junho de 2012
Barco Ancorado 05/06/2012
Bruce Springsteen fechou de forma memorável a quinta edição do Rock in Rio-Lisboa, com uma actuação de duas horas e meia suadas, generosa na atitude, na ousadia e também, por final, nos êxitos tocados. Para o Boss, veterania não significa cristalização no tempo.
Acompanhado pela numerosa E Street Band, Bruce Springsteen começa o espectáculo a visitar os temas do novo álbum Wrecking Ball. We Take Care of Our Own (logo a iniciar), Wrecking Ball e Death to My Hometown reivindicam a herança, num âmbito mais rockeiro, de Pete Seeger. O Boss continua a confortar-nos o ombro, atento ao que se está a passar. Graças a ele, o mundo ainda não está perdido. Além da injecção de humanidade, a marca Springsteen das novas canções tocadas é visível também naqueles finais épicos e colectivistas.
Pelo meio, surge a primeira investida na história mais antiga do rocker, o anti-depressivo Badlands (que Springsteen toca sempre). Um pouco mais adiante, Bruce Springsteen transforma-se em My City of Ruins naquilo que tem de James Brown, enquanto conduz com mestria as reacções da multidão. A ponte para Spirit é automática, enquanto Springsteen não se cansa de tentar dar ânimo a cada um dos espectadores, de um extremo ao outro do palco, e até pondo-se às cavalitas do público.
Segue-se Because the Night, balada gigantesca do tamanho da vida, prolongada por um belíssimo solo em rotação do guitarrista Steve Van Zandt. Em No Surrender, há novo encontro face-a-face entre Springsteen e Van Zandt que mais parecem almas gémeas. Num momento clássico dos seus concertos, Bruce Springsteen debruça-se sobre a multidão para ir buscar uma cartolina com o nome da música que vai tocar a seguir: She's the One é o caso, com aquele galope grandiloquente, antes de nova visita ao baú da sua longa história para tocar sob luzes avermelhadas a balada com cheiro a anos 80, I'm On Fire.
Voltamos à colheita de Wrecking Ball para ouvir o rock celta com coros militantes gospel de Shakled and Drawn, com Bruce Springsteen no alto de uma positiva ira. Waiting on a Sunny Day é também cantado por uma criança do público que Boss vai incentivando, recusando tirar-lhe o microfone mesmo que esteja a desafinar um pouco e erguendo até o miúdo no ar - num gesto revelador do carácter do compositor americano.
Com Bruce Springsteen de harmónica nos beiços, a garantia é ouvir The River, o tema que faz do Patrão o cantor country que o mundo escolheu idolatrar - e, pelos vistos, também o Parque da Bela Vista. The Rising dá espaço para Springsteen provar que também é guitarrista virtuoso. E a balada folk We Are Alive desespera os ansiosos por ouvir Born in the USA. Thunder Road, balada fogosa que resiste ao tempo, continua a servir para fechar sets.
O encore é uma escalada vitoriosa dos temas que o grande público quer ouvir: Born in the USA e Born to Run são colados naquele rock emblemático. Glory Days é a celebração rock & roll que pede mais uma cerveja; Hungry Heart, com feeling de jazz, leva Bruce a mais um passeio ao corredor central; e no meio disto tudo Dancing in the Dark torna-se incontornável. Num número cómico, Van Zandt refresca um deitado Springsteen para mais um tema: o festivo Tenth Avenue Freeze-Out que além de mostrar uma das páginas soul da enciclopédia musical de Springsteen, serviu para invocar em imagens a memória do falecido saxofonista e percussionista Clarence Clemons.
Como ninguém interrompe o Boss, nem o fogo-de-artifício que já estava a decorar os céus, o músico de New Jersey decide furar a ortodoxia com uma versão imprevista do clássico Twist and Shout. Foi uma festa. Todo o concerto.
Alinhamento
Bruce Springsteen (We Take Care of Our Own); Bruce Springsteen (Wrecking ball); Tom Petty (Into the great wide open); Bob Dylan (Jolene); Bruce Springsteen (The Rising); Neil Young (Keep on rockin in the free world); Bruce Springsteen (My city of ruins)
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