quarta-feira, 1 de junho de 2011

Barco Ancorado 01/06/2011


Não é fácil fazer jus ao novo espectáculo de Sufjan Stevens apenas com palavras. É uma experiência sensorial que anda em carrossel entre o ouvido e os olhos deixando marcas sensíveis ao toque.
Quem esperava os temas de "Illinois" ou "Seven Swans" ouviu-os ou logo ao início ou só no final. Porque a noite era da viagem cósmica, e «melodramática e psicótica» de "The Age of Adz", o mais experimental disco do multi-instrumentalista norte-americano. Sufjan Stevens esteve ontem à noite no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.

A tarefa de passar "The Age of Adz" para o palco parecia hercúlea logo à partida, tal a quantidade de camadas que o registo guarda. Mas Stevens passa o teste com distinção. Melhor. Em palco, o músico consegue a rara proeza de encher ainda mais o som do que em disco. Para isso estão lá, com requintes barrocos, duas baterias, uma secção de metais, duas vozes femininas (que também são bailarinas), DM Stith sentado ao piano e um baixista e um guitarrista que também cantam. Todos eles sorridentes e genuinamente contentes de ali estar.
No meio, está Stevens com as suas coreografias de braços e a sua parafernália de caixas de ritmos e a guitarra com a homenagem ao homem que inspirou o disco (o artista e 'profeta' Royal Robertson) escrita em verde fluorescente. De resto, toda a tripulação do que o músico chamou de «nave sobre a vida e a morte e tudo o que está pelo meio» envergava fatos fluorescentes, o que provocava um efeito meio alucinogénico quando as luzes apagavam.

O espírito hippie nunca deixou de passear pelo palco do Coliseu dos Recreios. Desde o início com as asas de cisne (ou de anjo) e os 'voos' rasteiros sobre os teclados em 'Seven Swans' até ao fato de balões e as deambulações pelas colunas laterais do palco no final oficial com a epopeia de 'Impossible Soul'. Pelo meio, foram-se ouvindo embaladas entre longas espirais de dissonância e preceitos clássicos os temas mais recentes: 'Too Much', 'I Walked', 'Get Real Get Right', 'Vesuvius' e, com pompa e circunstância, 'Age of Adz'. Pelo meio, o alinhamento fez a travagem necessária com 'Futile Devices', 'The Owl and the Tanager' (a solo ao piano) e 'Enchanting Ghosts' (estas duas do EP "All Delighted People"). No ecrã, passavam ilustrações, animações e imagens em 3D num festim visual inquieto e electrizante.

Quando saiu de palco pela primeira vez, Stevens deixou satisfeitos os fãs de "The Age of Adz" e todos os outros com vontade de ir explorar o álbum. Mas faltava o mimo para os fãs de "Illinois" e, depois de uma paragem mais longa do que o habitual, o músico e a sua trupe apareceram despidos das suas personagens para oferecer uma arrepiante 'Casimir Pulaski Day' (cantada em coro pelo Coliseu) e o final festivo com o hino 'Chicago', coroado com balões coloridos a caírem sobre a plateia.
À saída já ninguém se lembrava que o Coliseu esteve apenas a meio gás para a estreia do músico na capital. Não deverá andar longe das listas de melhores concertos do ano o encontro da noite de ontem com Sufjan Stevens.

Alinhamento
Sufjan Stevens - Vesuvius
Sufjan Stevens – Age of Adz
Andrew Bird – Oh no
Beirut - Nantes
Sufjan Stevens – Too much
Anthony and The Johnsons – You are my sister
Sufjan Stevens - Chicago

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