terça-feira, 13 de março de 2012

Barco Ancorado 13/03/2012


Quando se abate sobre a América do Norte uma forte crise económica e social, há que contar sempre com o Bruce Springsteen interventivo e inconformado que, com as mangas arregaçadas, quer mudar isto para melhor. Springsteen sempre foi assim, e dele não se espere a omissão, sobretudo num momento difícil como este.
Depois dos ares optimistas do fortíssimo álbum "Working on a Dream", influenciado pelo início da era de Barack Obama, Bruce Springsteen faz de "Wrecking Ball" o diagnóstico duro a esta América flagelada pela crise. Do seu observatório, a um país devorado por uma morte lenta de desalojamentos e fechos de lojas, esvaziamento de ruas e bairros (poderia ser Portugal), Bruce Springsteen coloca-se do lado do trabalhador, de preferência um conterrâneo de New Jersey, contra os banqueiros e demais.

Dos vários Springsteens que vamos conhecendo - o rocker que entusiasma grandes arenas, o compositor de pop mais atmosférica para filmes, o blues-rocker que chega a tornar-se numa one man's band, o countryman nostálgico -, o que emerge neste novo álbum é o folker eléctrico influenciado por Pete Seeger e Woody Guthrie.
A quase totalidade do álbum é marcada por gritos de revolta contra o status-quo, confrontos existenciais entre a mágoa do presente e o sonho de um futuro melhor, na forma de um rock operário e social, com um andamento folk animado por violinos ou por trompetes, por flautas ou por banjos, e, sempre, por coros gospel esperançosos.

Mais dentro dos parâmetros clássicos daquele rock de estádio cheio de glória e de suor, encontramos o primeiro single 'We Take Care of Your Own' ou, nos seus antípodas anímicos, a melancolia de 'This Depression'. Mas o contexto lírico de desagrado com o sistema actual é o mesmo do restante álbum. Outro tema que se destaca no disco é 'Rocky Ground', oceano americano inter-estilítico que, entre a pop contemplativa e os temperos de soul, chega a ser agraciado por um número de rap.

Talvez não sobressaiam grandes músicas individualmente. Mas "Wrecking Ball" é um álbum extremamente bem trabalhado, cheio, coerente, grandiloquente, operático até.
Numa nota extensa no livrete do disco, Bruce Springsteen não esquece o seu companheiro de sempre, o saxofonista Clarence Clemons (recentemente falecido), que define como «demasiado grande para morrer». O mesmo se pode dizer do Boss.

Alinhamento
Bruce Springsteen – We take care of our own
Bruce Springsteen – This depression
Tom Petty – Into the great wide open
Bob Dylan – Jolene
Bruce Springsteen – Rocky ground
U2 – The hands that build America
Billy Joel – She´s always a woman
Bruce Springsteen – Wrecking ball

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