terça-feira, 16 de março de 2010

Barco Ancorado 16/03/2010


Quase um ano depois da festa nostálgica da música dos anos 80, "Here and Now", que trouxe a Portugal estrelas como os ABC ou Kim Wilde, o Pavilhão Atlântico voltou ontem à noite a transformar-se numa máquina do tempo que fez marcha-atrás ao mesmo período em que Reagan e Thatcher governavam o mundo.
Desta vez, as estrelas tinham direito a exclusividade e chamavam-se Spandau Ballet, renascidos em 2009 depois de quase vinte anos de paragem. O Pavilhão Atlântico podia até parecer uma sala fantasma, com o palco a meio da arena e a lotação reduzida a cerca de um quinto da sua capacidade. Mas a estrutura do palco tinha uma megalomania que fazia jus à dimensão que os Spandau Ballet tiveram no pop-rock mundial, sobretudo na primeira metade dos anos 1980.

A fazer de cortina transparente, um enorme lençol que recordava as imagens dos muito jovens Spandau Ballet desfaz-se e, magia, a banda em carne e osso, mais inchada com a idade (sobretudo o vocalista Tony Hadley), aparece diante de nós para arrancar com o tema que os revelou ao mundo: 'To Cut a Long Story Short', com toda a sua carga tecnológica de synth-pop e de rebeldia de pós-punk à qual a banda jamais se aproximou de novo.
A velocidade depois abrandou e o beijómetro da sala começou a registar um maior número de entrelaçamentos entre os casais de quarentões, pré-quarentões e pós-quarentões, à medida que os Spandau Ballet iam dando corpo à procissão de baladas que ocuparam vistosos lugares nos tops de singles de todo o mundo, como 'Only When You Leave', 'I'll Fly for You', 'Through The Barricades' ou, já na parte final, 'True'.

O fantasma dos Roxy Music tornou-se omnipresente: no perfume do saxofone de Steve Norman, na interveniente menina dos coros, na guitarra-ritmo de sonoridade bronzeada (uma marca do neo-romantismo que abençoou também os Duran Duran de 'Rio'), na elegância esforçada de Tony Hadley ou no espalhafato humano em palco (sete músicos ao todo).
A simpatia foi o brinde extra-musical, sobretudo o agradecimento histórico do grupo para com a boa recepção que sempre teve no nosso país -­ não por acaso, algumas das imagens antigas que se foram vendo dos Spandau Ballet no grande ecrã por trás do palco incluíam também cenários lisboetas como filmagens do grupo na Estátua dos Descobrimentos ou com a Ponte 25 de Abril em fundo.

Coisa normal nestes concertos de regresso, canções novas como 'Once More' são sempre momentos mais ingratos. Mas o embalo profissional dos Spandau Ballet, com a ajuda do seu nervo funk, levou a que o público fosse perdendo a sua pacatez. Quando no final do único encore se tocou 'Gold', o Atlântico era já um coro de várias centenas de vozes. Os Spandau Ballet tiveram o que mereceram.

Alinhamento
Spandau Ballet – To cut a long story short
Spandau Ballet - True
Duran Duran – Someone else not me
The Human League – Don´t you want me
Spandau Ballet – Only when you leave
Alison Moyet – Is this love
Spandau Ballet - Gold

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